quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

CD BAQUES DO ACRE - baquemirim

Está em fase de produção, o novo cd com participação de vários mestres de cultura popular do Acre, BAQUES DO ACRE.

Financiado com o patrocínio do BASA-Banco da Amazônia, apresenta um mapeamento da maior parte de manifestações culturais, ritmos e suas variantes que foram adaptadas ou criadas nos seringais do estado, que são:

-Baques de marchas
Ritmo binário de provavel origem nordestina, mas com sotaque indígena. Em algumas variantes, fica evidente a sobreposição dos ritmos tocados pelas etnias do tronco Kampa, em instrumentos semelhantes às caixas do divino.

-Baques de sambas
Ritmo quaternário com forte tendência indígena. Suas células são idêndicas ao Huayno andino e históricamente tem procedência das aldeias de diversas etnias localizadas no Acre. Antônio Pedro aprendeu a tocá-lo ainda em sua infância no cupixau de um Tuchau da etnica Shanenawá, tronco Pano. Outras etnias Pano, como os Kuntanawa, Huni Kuin e Yawanawá possuem formas ritmicas semelhantes nas canções, e quando tocadas em violão, praticamente idênticas em execução à técnica de Antonio Pedro.

-Xote

-Mazurcas

-Baque samba machucado

-Xerém
Dança de passo arrastado e miúdo, como que peneirando, por isso o nome "xerém", que é o milho pilado para alimentar pintos, e tem o refrão:
"Eu piso milho penero xerém, eu não vou criar galinha pra dar pinto pra ninguém".
Esta categoria de dança possui melodias muito alegres, geralmente em tom maior e com solo instrumental característico que confere sua identidade.

-Marcha Desfeiteira
(A Desfeiteira é uma dança que tem origem na vila de Alter-do-Chão, paraíso ecológico localizado a cerca de 30 quilômetros do município de Santarém (PA), na Região do Baixo Amazonas. Pela proximidade com o Estado do Amazonas, lá também a Desfeiteira acabou se integrando à cultura popular local. Mas é na festa do Çairé, em Santarém (no mês de setembro), que se pode ver com mais freqüência essa manifestação folclórica, ainda nos dias atuais.
A dança recebe o acompanhamento musical com instrumentos percussivos de pau e corda, além do sopro. São usados curimbós, maracás, ganzáz, banjos, cacetes e flautas.
Os casais de dançarinos se posicionam em duas colunas de pares. Em geral, as mulheres se posicionam à direita dos homens. A dança começa com os homens com o braço esquerdo voltado para as costas. A mão direita dos homens segura a mão esquerda das damas, que usam as saias para acompanhar os movimentos do companheiro.)



Em algumas referências sobre esta manifestação é citado que ela tenha abrangido o estado do Pará e parte do Amazonas, ainda não existem registros sobre seu cultivo no Acre.
As informações que serão descritas em seguida provém de tradição oral de idosos residentes no município de Rio Branco, que vivenciaram a DESFEITEIRA durante sua juventude até a década de 80.
Fontes: Antonio José da Silva, 1941 (Antonio Pedro): Conheceu esta arte ainda criança, com seu pai Antonio José da Silva, Rio Grandense que se se tornou seringueiro no Acre.
Mesmo sendo uma dança que acompanha música instrumental, sou pai compôs uma linda canção utilizada para abrir a brincadeira, que resume bem seu espírito de improviso e ludicidade:
“Quem tem toca flauta, quem não tem toca taboca,Quem tem namorada dança, quem não tem olha da porta”

 No seringais do município de Feijó, a desfeiteira era considerada, segundo seu dizer “era uma dança da sociedade”, ou seja, promovida muitas vezes pelos patrões, numa sociedade onde também aconteciam outros eventos culturais em contextos mais reservados entre os trabalhadores.
Aprendeu com seu pai, também a tocar harmônica desde os 5 anos de idade. Este instrumento foi trazido ao Acre por nordestinos, que também trouxeram afinações que o adaptou à musica regional. Sua execução é distinta do seu descendente que hoje é conhecido, o acordeon, por funcionar notas diferentes entre o abrir e fechar do fole.
Veriana da Silva Brandão 1932: Criada desde os 7 anos por Irineu Serra, fundador do Santo Daime, cresceu no contexto da criação de versos e  ainda guarda versos de contemporâneos da década de 40. Ainda brincou a desfeiteira em sua comunidade até a década de 80, onde as festas eram encerradas com este jogo musical.

Antonio Honorato de Holanda. 1933: brincou desfeiteira na região do rio Purús mais precisamente no afluente rio Antimarí. Descreve sobre a função de mediação feita pela sanfona harmônica no jogo, diferente da versão original do Pará, os instrumentos possuem funções basicamente musicais. Quando a dama não queria que o seu parceiro pagasse a prenda, por cumplicidade, ela podia retirar o instrumento das mãos do músico e pousá-la sobre os braços do companheiro. 
Abismar Gurgel Valente, provavelmente 1929: Violonista, acompanhou por muitas desfeiteiras o pai de Antonio Pedro, que tocava harmônica.

-Choros
-Vassourinhas
Manifestãção própria de carnaval, em forma de bloco com personagens que ridicularizam os beberrões (Maneco Leite) entre outros como o Morcego que senta do dedo de uma senhora. Ja extinta, as vassourinhas estão sendo registradas pelos mestres que restaram, Sr Aldenor Costa (voz e pandeiro) e Chico do Bruno (banjo e piston). Este, foi parceiro de Helio Melo, e ambos são naturais de Cruzeiro do Sul, local onde o folguedo acontecia.


ARTISTAS:

Todos foram seringueiros e fazem parte da última geração, pois em razão do êxodo florestal seus descendentes não deram continuidade às manifestações culturais que preservam.





Antonio Pedro e o técnico Jardel Costa na sala de mixagem.





Dona Carmem gravando.

Carmem Almeida, 65 anos, é esposa de Antonio Pedro, e completam 50 anos de casados no mês de agosto. Desde adolescentes são parceiros musicais das festas nos seringais. Tocava cavaquinho e violão, mas devido aos cuidados com seus 11 filhos e dificuldades financeiras ficou décadas sem tocar, mas nunca parou de cantar. Expressa um modo de cantar peculiar, de provável origem indígena, pela semelhança do modo das etnias Huni Kuin e Shanenawa, com atrasos voluntários e alongamentos de nota causando um efeito, uma ambiência semelhante ao efeito de reverb. Este procedimento é comum também no modo de solar do Seu Bima, como foi registrado no cd BAQUES DO ACRE 1.




Antonio Pedro

Sr Antonio Pedro, 71 anos, começou a aprender desde seus 5 anos de idade sanfona de botões com seu pai, José Pedro. Tocou em festas dos seringais até os 20, e depois se dedicou ao violão, pela dificuldade de aquisição e manutenção do instrumento. A vida nos seringais era dura. Em 2008, com apoio do projeto BAQUEMIRIM, é presenteado com uma 8 baixos e começa a recuperar o repertório de seu pai. São dezenas de choros, marchas, mazurcas, valsas, danças (desfeiteira, carreirinha, cana verde) e sambas acreanos.





Seu Bima

Sr Abismar Gurgel Valente, aproximadamente 80 anos de idade, não letrado, é natural de
Tefé, Amazonas, ainda adolescente foi trabalhar nos seringais do alto Envira, situado no município de Feijó, Acre.
 Violonista à 65 anos, foi parceiro de José Pedro, pai de Antonio Pedro. Afirma que seu parceiro, que é Rio Grandense fora parceiro de Severino Januário, e trouxera para o Acre um enorme cancioneiro autoral e de seus contemporâneos nordestinos, especialmente na linguagem das sanfonas de botões, chamadas de concertinas ou de harmônicas.

Seu Bima, como é conhecido, é soldado da borracha e preserva enorme repertório instrumental destas origens traduzidos para seu violão. Foi reconhecido como soldado da borracha e participou do cd “Baques do Acre dedição 1” tocando violão solo.







Antonio Pedro, Alexandre Anselmo, Aldenor Costa.

Aldenor Costa, 67, de Cruzeiro do Sul, é um dos últimos mestres da Marujada, Vassourinhas, Reizado de boi e Baianas. Percussionista e brincante, foi consultor nos estúdios da rede globo para atores na produção da novela Amazônia. Atualmente é zelador do seringal urbano da fundação cultural do município, mas seus grupos estão praticamente extintos.
No CD canta as Vassourinhas.







Antonio Honorato, 78, natural de Boca do Acre, também é multi instrumentista. Já tocou harmônica, violão, cavaquinho, mas atualmente tem mantido as percussões, tocando os tamborins (tambores de origem indígena etnias Pano, escavado em palmeira e tocado com baquetas), colheres, tambor de borracha, espanta-cão, cuíca, e outros.
No CD participa tocando colheres e percussões.






Chico do Bruno, 77, Cruzeiro do Sul, também é multi instrumentista, toca piston, cavaco, violão, percussões em especial o banjo com uma técnica especial para folguedos de rua, produzindo um som semelhante à esteira da caixa clara utilizando uma palheta adaptada percutida no couro junto com as cordas. É companheiro de Aldenor na Marujada e Vassourinhas, e também acompanhou o saudoso Helio Melo.
Neste CD tem participação nas Vassourinhas.



HINO DOS SOLDADOS DA BORRACHA

Foi gravado pelas 35 crianças do CORAL BOCA PEQUENA, coordenado pelo CENTRO DE MULTIMEIOS, da Secretaria municipal de educação, acompanhados pelos regentes Rosimar Brilhante e Rose Santos.
Este hino foi composto em navio que trazia soldados da borracha na década de 40, e foi recolhido por Tia Vicência, que vive em Xapurí.







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